Tumba do faraó Tutmés 2º é encontrada no Egito, a primeira desde a de Tutancâmon
Ministério diz ser uma das descobertas arqueológicas mais importantes dos últimos anos.
O Ministério das Antiguidades do Egito anunciou a descoberta da tumba de Tutmés 2º, o primeiro túmulo real antigo encontrado desde o de Tutancâmon em 1922.
Tutmés 2º foi um faraó da 18ª Dinastia, que viveu há cerca de 3.500 anos. Ele foi antecessor de Tutancâmon e casou-se com sua meia-irmã Hatshepsut.
Seu túmulo foi encontrado perto do Vale dos Reis em Luxor, no sul do Egito, a alguns quilômetros de seu imponente templo funerário, erguido na margem oeste do Nilo.
O Ministério das Antiguidades disse nesta terça-feira (20) que essa é "uma das descobertas arqueológicas mais importantes dos últimos anos".
Segundo estudos preliminares, a tumba, escavada por uma missão conjunta egípcio-britânica, foi esvaziada na antiguidade, deixando o túmulo sem múmia real nem o esplendor dourado associado à descoberta de Tutancâmon.
Sua entrada foi localizada pela primeira vez em 2022 nas montanhas de Luxor, a oeste do Vale dos Reis, mas os especialistas acreditavam que ela conduzia à tumba de uma esposa real.
Depois, de acordo com o ministério, a equipe encontrou "fragmentos de vasos de alabastro com o nome do faraó Tutmés 2º, identificado como o 'rei falecido', assim como inscrições com o nome de sua principal esposa real, a rainha Hatshepsut".
Pouco depois do sepultamento do rei, a água inundou a câmara funerária, danificando o interior e fragmentando um revestimento de gesso decorado com extratos do "Livro de Amduat", um antigo texto funerário sobre o além.
Também foram encontrados na tumba alguns móveis funerários que pertenceram a Tutmés 2º, segundo o ministério.
O chefe da missão, Piers Litherland, afirmou que a equipe continuará seu trabalho na região, com a esperança de encontrar objetos que originalmente estavam na tumba.
O anúncio da descoberta ocorre num momento em que o Egito intensifica seus esforços para impulsionar o turismo, uma fonte essencial de divisas estrangeiras para a economia do país.
No ano passado, o Egito recebeu 15,7 milhões de turistas e neste ano espera a visita de 18 milhões, especialmente graças à esperada inauguração do Grande Museu Egípcio, ao pé das pirâmides de Gizé.
Como foi a descoberta da tumba de Tutancâmon em 1922
A tumba de Tutancâmon foi achada em novembro de 1922 pelo arqueólogo Howard Carter junto com uma equipe de egípcios. A escavação durou cerca de dez anos.
Em seu diário, no dia 5 de novembro daquele ano, o arqueólogo escreveu: "Descobri tumba sob a tumba de Ramsés 6º, investiguei e encontrei os selos intactos".
Segundo o British Museum, a tumba de Tutancâmon é a única tumba de faraós do Novo Império achada consideravelmente intacta. Sua suntuosidade daria uma ideia de como seriam outras tumbas de faraós, antes de serem saqueadas. Tutancâmon morreu jovem, sem chance de deixar um legado, sendo, portanto, um faraó historicamente menor.
A tumba é composta de quatro câmaras e, em sua descoberta, estava cheia de objetos —mais 5.000— como carruagens cobertas de ouro, vasos, móveis, objetos pessoais de Tutancâmon, como joias, e sarcófagos que protegiam o faraó. Além disso, estava presente a lendária máscara de ouro maciço sobre sua múmia. Mas também foram encontrados objetos como pães, carne e cestos de grão-de-bico, lentilhas e tâmaras, segundo reportagem da BBC News. Havia até guirlandas de flores.
A descoberta da tumba teve um grande peso midiático e cultural. Por exemplo, o primeiro jornalista a ver o rosto da múmia do faraó Tutancâmon foi John Balderston, que, posteriormente, fez o roteiro do filme "A Múmia", de Karl Freund, de 1932, de acordo com a reportagem da BBC News, citando o livro "The Mummy's Curse: The True History of a Dark Fantasy" (algo como a maldição da múmia: a verdadeira história de uma fantasia sombria), de Roger Luckhurst.
Um ponto interessante é que havia rumores de que Carter teria roubado bens da tumba. Evidências recentes reforçaram a ideia, segundo noticiou o jornal britânico The Guardian, a partir de uma carta de 1934 que veio a público há alguns anos, sobre um amuleto que o arqueólogo teria mostrado a Alan Gardiner, um filólogo —em linhas gerais, especialista em línguas— em busca de decifrar hieróglifos. Carter teria garantido que o amuleto não era proveniente da tumba de Tutancâmon.
Ao mostrar o amuleto para Rex Engelbach, o diretor do Museu Egípcio, no Cairo, Gardiner recebeu a informação de que o objeto combinava com outros exemplares da tumba.
"O amuleto whm que você me mostrou foi, sem dúvida, roubado do túmulo de Tutancâmon", escreveu Gardiner a Carter. "Lamento profundamente ter sido colocado em uma posição tão constrangedora."
A escavação foi acompanhada e documentada em imagens pelo fotógrafo arqueológico britânico Harry Burton. É possível também acessar todo o diário de Carter e mais material sobre a escavação no site do Griffith Institute Archive, da Universidade de Oxford, onde tais registros são mantidos.
Fonte: Folha de S.Paulo
Publicada em 19/03/2025