Taxa de 50% dos EUA sobre tilápia brasileira ameaça setor e penaliza pequenos produtores


A imposição de uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras de pescado pelo governo dos Estados Unidos está gerando grande preocupação no setor aquícola nacional, em especial na tilapicultura. O impacto é direto e severo para o Brasil, cuja cadeia produtiva tem nos EUA seu principal mercado: mais de 90% das exportações brasileiras de tilápia têm como destino o país norte-americano.
O reflexo é sentido principalmente no Paraná, estado que lidera o envio de filé fresco e congelado de tilápia para os Estados Unidos e que já posiciona o Brasil como o segundo maior exportador desse produto no mercado norte-americano. “Essa medida afeta toda a cadeia, mas atinge em cheio o pequeno produtor, predominante na região oeste do estado”, destaca Francisco Medeiros, presidente da Peixe BR, entidade que representa o setor.
Dados do IBGE confirmam: 98% dos produtores de peixe no Brasil são pequenos produtores. Com a nova tarifa, boa parte da produção que seria exportada retorna ao mercado interno, aumentando a oferta e pressionando os preços. “Hoje o produtor já está com remuneração muito baixa por causa do inverno e da elevada oferta nacional. Essa tarifa piora ainda mais a situação, trazendo prejuízos graves”, reforça Medeiros.
Além do impacto direto na renda dos produtores, a nova política tarifária ameaça postos de trabalho e a estabilidade econômica de diversas comunidades rurais no Paraná. A Peixe BR afirma estar atuando junto ao governo federal e parceiros internacionais para reverter a medida, mas destaca que cabe ao governo brasileiro liderar as negociações com os Estados Unidos.
Preocupação com reabertura das importações
Outro ponto de alerta no setor é a possibilidade de reabertura das importações de tilápia, especialmente de países como o Vietnã. A Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (SEAB) manifestou preocupação com a ausência de missões sanitárias e de informações consistentes ao setor produtivo.
Segundo análise da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (ADAPAR), a Análise de Risco de Importação (ARI) do Ministério da Agricultura (MAPA) se mostrou limitada ao considerar apenas o vírus TiLV (Tilapia Lake Virus), desconsiderando outros riscos sanitários e impactos econômicos.
“A simples notificação de um caso de TiLV em território paranaense pode levar a sanções comerciais e afetar mercados internacionais, com graves consequências socioeconômicas para o estado”, alerta nota técnica da ADAPAR.
A SEAB se comprometeu a pleitear junto ao governo federal:
Uma análise de risco mais abrangente, considerando múltiplos patógenos e impactos econômicos;
Exigência de certificações sanitárias rigorosas para importações;
Realização de missão técnica ao Vietnã para verificar protocolos sanitários e produtivos.
Setor em alerta e expectativa por ação governamental
Enquanto os efeitos da tarifa começam a se consolidar no campo, o setor pressiona por ações rápidas e firmes do governo brasileiro. “Essa negociação precisa acontecer o mais rapidamente possível, porque a situação já é grave. E, mais uma vez, quem mais sofre são os pequenos produtores, que têm pouca margem e nenhuma reserva”, finaliza Medeiros.
Com mercados internacionais em risco e o mercado interno desorganizado pela mudança repentina de fluxo de produção, o futuro da tilapicultura brasileira — especialmente no Paraná — depende de uma atuação estratégica, técnica e política que envolva Brasília e Washington.
Fonte: souagro.net
Publicada em 18/07/2025