AUMENTO DA INCIDÊNCIA DE NECROSE DO QUADRIL PODE ESTAR RELACIONADA COM A COVID-19.
A osteonecrose entra na fila como uma das sequelas pós-covid, Médicos e pesquisadores de diversas partes do mundo têm publicado nos últimos meses alertas sobre o aumento da incidência de casos de osteonecrose do quadril em pacientes que contraíram a COVID-19. A doença é caracterizada pela ‘morte’ óssea da cabeça femoral, que geralmente evolui com colapso e destruição da articulação. As principais causas de osteonecrose no mundo são o uso excessivo de álcool, corticóides, traumas, histórico de doenças sanguíneas, quimioterapia e problemas do metabolismo lipídico. E são justamente os corticóides, utilizados em fases agudas da doença e quando há internação do paciente infectado por COVID-19, que preocupam os ortopedistas de todo o mundo. A observação do aumento de casos de osteonecrose após uma pandemia causada por um tipo de coronavírus não é uma novidade. Em 2003, após a pandemia de SARS, a medicina observou uma taxa de incidência de osteonecrose de até 58% em pacientes tratados com altas doses de corticóides. Os dados foram revisados por um estudo publicado pela Universidade Thomas Jefferson, na Pensilvânia (EUA), em 2020. Segundo o médico ortopedista especialista em quadril e joelho, Dr. Thiago Fuchs, diferente do SARS, a COVID-19 também apresenta consequências vasculares que podem estar relacionadas ao aumento dos casos de osteonecrose do quadril. “Não se sabe exatamente se o COVID-19 está causando a osteonecrose do quadril pela própria infecção, uma vez que a doença pode causar uma síndrome pró-trombótica e isso causar uma obstrução dos vasos da cabeça femoral e levar a necrose, ou se é o uso do corticóide utilizado para o tratamento de algumas fases e sintomas da COVID-19. Estamos passando pela pandemia e ainda conhecendo os efeitos que a infecção pela COVID-19 pode causar no longo prazo”, comenta o especialista, Osteonecrose em pacientes brasileiros, Outro estudo, publicado no Journal of Regenerative Biology and Medicine por pesquisadores do Serviço de Ortopedia e Traumatologia do Complexo Hospitalar Professor Edgard Santos (HUPES) da Universidade Federal da Bahia, reforça o impacto da COVID-19 nos casos de osteonecrose com exemplos de pacientes brasileiros. Foram catalogados 23 casos, sendo a maioria homens (66%), com idades entre 25 e 61 anos, com osteonecrose bilateral. O início dos sintomas até a limitação funcional da articulação ocorreu entre 64 e 180 dias após a infecção por COVID-19. Em 33% dos casos, os pacientes tiveram COVID-19 com sintomas leves, sem a necessidade de internação e uso de corticóides. Os outros 66% eram de pacientes que tiveram sintomas moderados e graves da infecção, foram internados e fizeram uso de corticoterapia com dose mínima de 40mg/dia de dexametasona por 14 a 21 dias. “Com a morte celular na osteonecrose, a cabeça do fêmur perde a sustentação da cartilagem e do osso subcondral, onde pode ocorrer a fratura e o colapso da articulação do quadril. São pacientes que eram normais e que em poucas semanas ou meses podem ter indicação de uma prótese total do quadril. A osteonecrose é uma doença muito agressiva, com progressão rápida, com sintomas muito intensos e incapacitantes na maioria dos casos. O paciente pode entre quatro a seis meses estar com o quadril totalmente destruído, com artrose e necessidade de uma prótese”, diz Fuchs. Diagnóstico e tratamentos, O diagnóstico é feito geralmente com uma avaliação clínica completa sobre a história e tipo da dor, exame físico detalhado e muitas vezes pesquisa de fatores de risco. Também são solicitados exames de imagem complementares, como a radiografia e ressonância magnética com avaliação dos dois quadris, para estabelecer o estágio da doença e qual o tratamento adequado. Quando um quadril tem osteonecrose o outro quadril também está em risco. Segundo o ortopedista, o tratamento varia de acordo com o estágio da doença e pode ser preservador ou de substituição da articulação. O que define a escolha é a presença ou não do colapso ou fratura subcondral da articulação. Osteonecrose pré-colapso pode ter tratamentos preservadores. Após o colapso, o tratamento indicado é a prótese total do quadril. “Entre os tratamentos preservadores está a descompressão da cabeça femoral associada, ou não, à terapias biológicas que estimulam a cicatrização e o reparo ósseo, buscando a preservação daquele quadril. Já a osteonecrose, que evoluiu para um quadro fratura subcondral ou de artrose, tem indicação de tratamento cirúrgico com artroplastia total de quadril, para tratamento da doença, melhora dos sintomas e da qualidade de vida. A maioria dos pacientes são jovens, praticantes de atividades físicas, que possuem uma demanda de trabalho e funcional grande”, reforça o especialista. Artroplastia total de quadril, A cirurgia consiste na substituição da articulação do quadril por componentes metálicos, de polietileno e de cerâmica, com o objetivo de restabelecer uma articulação com bom movimento e alívio da dor, melhorando a qualidade de vida do paciente. Pacientes com artroplastia total do quadril tem uma taxa de satisfação acima de 95% com a cirurgia, retomando suas atividades sociais, de trabalho e lazer, e a prática esportiva. Dr. Thiago Fuchs – É formado em medicina pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), especialista em Cirurgia do Joelho e Artroscopia pelo Hospital Novo Mundo e especialista em Cirurgia do Quadril e Joelho pelo Hospital de Clínicas (UFPR). Sua formação profissional conta com estágios em Hip Preservation and Hip Arthroscopy no Hospital for Special Surgery, em Nova Iorque (EUA), e no Hip Preservation Center – Baylor University, em Dallas (EUA). Dr. Thiago Fuchs também atuou como médico voluntário no Serviço de Ortopedia e Traumatologia no Hospital de Clínicas-UFPR. É membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT); da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho (SBCJ); da International Society of Hip Arthroscopy (ISHA) e da Sociedade Brasileira de Quadril (SBQ).
FONTE:"PORTAL BANDA B".
Publicada em 21/11/2024